sexta-feira, 25 de maio de 2012

Geração FM.

Este post está aqui nos rascunhos já tem tanto tempo... Vou tentar desembolar agora.

Quando eu era criança, lá pelos meus 7 ou 8 anos, comecei a assistir ESPN. Ainda que não tenha sido do dia pra noite, conheci vários clubes europeus, vários campeonatos e, porque não, diversos esportes. Sabia quem era Raul e vi ele jogando no auge. Toti, Fernando Couto, Shevchenko, Rui Costa... Acompanhei o surgimento do Messi, Fàbregas, Kaká e por que não dizer, do atual campeão da UCL... Vi o auge e a queda de Ronaldinho Gaúcho. Vi caras aparecerem e sumirem.

Já adianto pra quem não me conhece, 99% do meu conhecimento esportivo devo ao meu avô. Desde cedo, sempre assistia absolutamente tudo que o esporte e a tv aberta me ofereciam na companhia dele.

Bom, voltando à ESPN... De repente eu já conhecia um outro mundo de possibilidades no futebol. Sabia quem eram os irmãos Laudrup bem antes da Copa de 1998. Já tinha visto o Michael jogando por Barcelona e Real Madrid e sabia que o cara era bom de bola.

Enfim, naquela época sem internet, era a melhor fonte de conhecimento esportivo que eu tinha E o conhecimento, ainda que raso, que eu obtive, veio de acompanhar os jogos e campeonatos. Passava Betis x Celta de Vigo e eu assistia como se fosse Barcelona x Real Madrid.

O ponto que eu quero chegar é nas atuais gerações dos entendidos de futebol. Atualmente, as fontes de consulta se limitam a estatísticas da wikipedia (quantos jogos, quantos gols) e jogos virtuais. Apesar do aumento de opções (tanto de canais quanto de campeonatos), hoje são poucos os que acompanham o jogo em si.

Não vou ser hipócrita e falar que nunca joguei (inclusive, continuo jogando, sobretudo Fifa e FM).

Acho ambos os jogos sensacionais e a atenção que as empresas tem dado aos jogos é exponencial. Antigamente, vide Elifoot, você escolhia a tática e selecionava quem tinha melhores condições físicas. Pra época, era extremamente complexo. Hoje, nos managers, podemos montar esquemas de treino para cada perfil de jogador, compor comissões técnicas, enfrentar problemas de ego e de adaptação ao idioma. Cada nova versão se aproxima mais da perfeição e isso é incrível.

O problema é quando as pessoas não sabem diferir o jogo da realidade.

Por mais real que fique em um lado a parte da simulação da realidade (sobretudo extracampo), na parte que mais importa é praticamente impossível estabelecer um parâmetro real. Reconheço que é difícil deixar isso real, mas vejo nisso um perigo gigante pros "entendedores" de futebol.

Explico.

Como disse antes, eu sabia antes da Copa de 1998 que o Laudrup jogava muita bola. Não por ouvir um comentarista falando ou as estatísticas dele na wiki, ou por jogar com ele no Fifa 97, eu sabia porque já havia visto ele jogando na Espanha. Hoje, você senta pra conversar com as pessoas sobre contratações e vêm sempre as sugestões baseadas nos jogos... Roncatto, Todorov, de la Cuesta, Mihalcea, etc. Jogadores que nunca jogaram nada em lugar algum e, dependendo da versão do manager, são as primeiras contratações de qualquer um.

Ao mesmo tempo que os jogos virtuais aproximaram o torcedor do futebol, abrindo a visão do leque de outras opções além do camisa 10 do Flamengo e do goleiro do São Paulo, privou a molecada da análise fria do futebol como ele é: no campo.

Vejo gente defendendo a convocação do Ronaldinho Gaúcho pra Seleção brasileira. Provavelmente, são pessoas que jogam FM e tem o RG como melhor jogador do campeonato. Na real, faz tempo que não joga nada e o pior, não por falta de capacidade... Por falta de vontade. E isso o jogo não pode retratar hoje... Do jeito que anda a evolução, não duvido que apareça esta possibilidade nos próximos FMs.

Fora a questão dos pitacos táticos... Muita gente usa táticas prontas nos simuladores e perde a maior graça do jogo... Passar aperto e sofrer pra vencer alguns jogos. Outra vez, assumo que já usei por diversas vezes táticas prontas, mas ainda assim, sempre fiz adaptações ao que tinha em mãos. Não adianta você usar o time pra cruzar na área se no ataque você tem dois baixinhos. Não adianta pedir pro Luis Fabiano armar o time.

Isso abre outro leque, o derradeiro. O paralelo com a invasão nas tvs (ressalto a ESPN Brasil, por anos a melhor neste quesito, hoje nem tanto) de comentaristas de boteco. Aqueles caras que acham que entendem de bola por terem passado os últimos 10 anos jogando bola profissionalmente ou aqueles que fizeram faculdade de comentarista (como disse o Kajuru sobre a Renata Fan, fez cadeira de Tática II?).

Virou um circo. Antes, você ainda conseguia pinçar alguns caras que realmente entendem. Hoje, vê uns caras sem capacidade alguma pra isso.

Fazendo um caminho diferente, temos o Léo Bertozzi da ESPN Brasil, que saiu do excelente Trivela e hoje comenta jogos na tv com propriedade impar. É um cara que entende de bola, mesmo sem jamais ter sido jogador. Idem ao PVC e ao PCV (sério). É claro que temos os caras bons, mas os ruins estão infestando os canais.


Lugar de comentarista de boteco é na arquibancada. Que as redes de tv jamais se esqueçam disso.

E eu não me julgo bom o suficiente pra isso, que fique claro. Sou comentarista de arquibancada.

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