terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Chaves e a geração sem escrúpulos.

Quem aqui não cresceu vendo Chaves, né?

Não sei se vocês sabem, mas o Chaves veio parar no Brasil totalmente sem querer, pelo menos é esta a história que contam...

Bom, reza a lenda que "El Chavo del Ocho" veio pro Brasil no meio de um rolo de episódios de novelas mexicanas por acaso (e vocês pensavam que elas eram inúteis...). Por uma obra do acaso, Sílvio Santos viu a fita (era fita já?) e resolveu mandar dublar o episódio. Assistiu e gostou, contrariando o resto dos chefões do SBT que acharam o programa um lixo (é por isso que hoje o Sílvio Santos é rico e ninguém conhece nenhum desses "chefões", aliás).

Tal como acontece hoje, um belo dia faltou uma atração pra colocar no programa do Bozo (sério!) e o Chaves finalmente estreou no longínquo ano de 1984.

Independente de qualquer coisa, o importante é que a série esse ano completa 28 anos no ar. Não faço idéia de quantos episódios são, mas os mesmos repetem desde 1984 sem dó. E sem perder audiência.

Todo mundo aqui no Brasil (e me arrisco a dizer, na América Latina) sabe que os sapinhos fazem uh-ah-um. Todo mundo sabe que não se trata burro a pão de ló. Que é melhor morrer do que perder a vida. Etecétera, etecétera.

O que nem todo mundo dá a devida atenção, é que Chaves formou uma geração. Aliás, em 28 anos no ar, digo que talvez duas gerações foram criadas assistindo isso. Atualmente estamos entrando talvez na terceira geração de fãs do seriado, haja vista que continua passando invariavelmente no SBT e tem alguns episódios rolando também no Cartoon Network.

Convenhamos, desconsiderando a época claro, Chaves é extremamente mal filmado. Tem efeitos bizarros de isopor e chroma key primários. As piadas são geniais, mas repetidas exaustivamente são insustentáveis. De onde vem o sucesso do Chaves?

O Chaves era pobre, não tinha lugar pra morar e passava fome. Não tinha coisa que me incomodava mais do que ver o Quico esfregando um sanduíche de presunto na cara do pobre do Chaves e falando "olha Chaves, eu tenho este sanduíche de presunto e não te do-ou".

Gentalha!

Cara, o Quico era muito sacana. Mas não era só ele.

O próprio Chaves adorava passar a perna nos outros com aquela história de "suco de laranja que parece de limão e tem gosto de tamarindo".

Sério, isso é um tamarindo.

Fora o Jaiminho, aquele carteiro preguiçoso e vagabundo. Evitar a fadiga, né? Falou...

O Seu Madruga que não gostava de trabalhar. Aliás, "não existe trabalho ruim, ruim é ter que trabalhar". A Chiquinha que adorava sacanear todo mundo. O Nhonho era mimado bagarai, assim como o Quico tinha em mãos tudo que queria.

Nada, digo NADA mesmo, era certo em Chaves. Era tudo a máxima demonstração do politicamente incorreto. Do humor negro ao extremo. E ao mesmo tempo, NADA era reprovado. Não existia censura, salvo algumas incursões do Professor Girafales, mas ele próprio não era flor que se cheire (poxa, enrolou a Dona Florinda por vários anos, de olho na xícara de café dela).

Ainda assim, Chaves faz sucesso há quase 30 anos no Brasil. E não deve parar de passar tão cedo.

Faz sucesso por um motivo simples: Chaves representa toda a brasilidade do brasileiro.

A necessidade de passar a perna nos outros, viver passando aperto financeiramente e ainda assim estar pouco se lixando pra tudo isso.

Porque no fim das contas, tudo se resume a passar as férias de fim de ano em Acapulco (ou no Guarujá, depende da dublagem).

Edit: A Televisa, emissora original do programa, disponibilizou no youtube uma penca de episódios na internet. E mais, dublados. Corre lá e assiste.

----------------
Now playing: Velhas Virgens - Não Vale Nada
via FoxyTunes

Nenhum comentário: