segunda-feira, 21 de junho de 2010

Paciência de Jó

Conta o livro mais lido do mundo, Jó (ou Job, para alguns) foi um homem abastado que viveu na terra de Uz (baita nome legal, diga-se)...

Conta a história que Jó foi vítima de uma aposta entre Deus e Satanás. Mais precisamente, um teste de integridade e probidade. Jó possuía riquezas e era considerado o maior de todos os homens do Oriente...
Ora, chegado o dia em que os anjos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. O Senhor perguntou a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, dizendo: De rodear a terra, e de passear por ela. Disse o Senhor a Satanás: Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal? Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura Jó teme a Deus debalde? Não o tens protegido de todo lado a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? Tens abençoado a obra de suas mãos, e os seus bens se multiplicam na terra. Mas estende agora a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e ele blasfemará de ti na tua face! Ao que disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo o que ele tem está no teu poder; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor. [Jó 1:6-12]

Satanás, entretanto, desafia esta fé, e então Deus permite que o mesmo interfira na vida de Jó, resultando na tragédia deste: a perda instantânea de seus bens, de seus filhos e de sua saúde.

Jó, porém, não blasfemou contra Deus, mas, ao invés disso, se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou ao Senhor. Deus permitiu que Satanás ferisse Jó de úlceras malignas, desde a planta do pé até o alto da cabeça. Após a narração desses fatos, sucederam debates entre Jó e seus amigos (Elifaz, Bildade e Zofar) sobre a grandeza dos propósitos da divindade e sobre os mistérios da vida humana e sua culpabilidade. Ao final, Deus aparece a eles e repreende-os, e Jó fala: "Antes eu Te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos Te veem".

E Deus virou a situação de Jó, enquanto ele orava pelos seus amigos, e o Senhor devolveu a Jó em dobro a tudo quanto antes possuía de bens materiais, além de vir a ter outros sete filhos e três filhas, as quais vieram a ser consideradas como as mais belas da época. E ele viveu cento e quarenta anos, e morreu velho e farto de dias.

O momento wikipédia acaba agora.

Colocando tudo em linhas gerais, é possível continuar trabalhando normalmente com todo mundo sendo contrário ao seus serviços?

É suficiente ser campeão de três campeonatos tendo disputado quatro?

Dunga liderou a seleção na primeira colocação das Eliminatórias da Copa e se classificou com muita facilidade, foi campeão da Copa América e da Copa das Confederações. O único revés em termos de competições foi nas Olimpíadas, onde a seleção ficou em terceiro lugar.

E ainda assim, as cobranças só aumentam. Não ter levado Ronaldinho Gaúcho, Ganso e Neymar apagou completamente o histórico do treinador. Pelo menos é assim que a imprensa age.

Engraçado.

Porque ele foi o responsável por cortar (quase) todas as regalias da Rede Globo com a Seleção. Acabaram as entrevistas exclusivas pós jogo, as matérias imbecis com Ana Maria Braga e afins. Dunga peitou a Globo ao impor o fim da mamata.

Depois de quase quatro anos trabalhando contra a imprensa e consequentemente a torcida, apresentando bons resultados, Dunga ontem, após a vitória contra a Costa do Marfim pela primeira fase da Copa do Mundo, perdeu a paciência com um jornalista da Tv Globo que ficou ironizando sua resposta.

O contra-ataque da "Vênus Platinada", veio na forma de um editorial pra lá de mesquinho no Fantástico e na declaração de guerra contra o técnico.



Não há como dizer que Dunga está fazendo um mal trabalho pela seleção. Afinal, os números mostram o contrário. O impressionante é a Globo ficar revoltada por, pela primeira vez em muitos anos, não ter privilégios sobre os outros canais de tv.

Dunga castrou o futebol alegre da seleção de 2006, aquele oba oba tremendo que não rendeu em absolutamente nada. Fez o time jogar pragmáticamente, priorizando resultados antes de espetáculo. Vem dando certo.

Impôs o futebol pegado e brigador que demonstrava enquanto foi capitão da Seleção, naquela injusta referência de "geração Dunga" como uma geração fracassada. Uma geração que sob a batuta do próprio Dunga, foi tetra campeã em 94 e vice em 98, nunca se esqueceu das ásperas palavras ditas no passado.

E hoje, só resta dizer uma coisa:
Paciência tem limite.

Na humilde opinião deste que vos escreve, Dunga está mais do que certo.

Um comentário:

André Maciel disse...

O que eu achei é que Dunga não fez isso para ferir a Globo exatamente e sim foi um ataque a imprensa em geral. Foi no olho da Globo por azar dela, mas se fosse outro Dunga teria feito o mesmo, independentemente do canal.